Técnico: chance de o Brasil ter terremoto é muito pequena

A probabilidade de um terromoto como o que devastou o Haiti na última terça-feira, que atingiu 7 graus na escala Richter, ser registrado no Brasil é muito pequena, mas não é impossível, afirmou o técnico de laboratório de sismologia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP), José Roberto Barbosa. Segundo ele, existem tremores em todo o território nacional, mas a maioria é de magnitude baixa, menor de 3 graus.

Barbosa afirmou que não há prevenção para este tipo de abalo no Brasil e nem em outra parte do mundo, nem mesmo nos países mais ricos, como o Japão, que já constroem estruturas fortes para enfrentar esses abalos.

Confira a entrevista com o técnico da USP:

Terremotos acontecem somente em locais onde há encontros de placas tectônicas ou esse "perfil" mudou?
Na verdade, os terremotos ocorrem, geralmente, nas bordas de placas, que são as regiões de fraqueza. Esse (do Haiti) não aconteceu na borda, mas próximo a ela, num sistema de falhas chamado enriquillo garden fault. (Segundo o Serviço Geológico Norte-Americano, o epicentro foi a 15 km da capital, Porto Príncipe)

O Brasil pode passar por algo parecido com o que aconteceu no Haiti? Qual seria a região mais vulnerável
A probabilidade é muito pequena, mas impossível não é. Existem tremores em todo o território, mas a maioria é de magnitude baixa, menor de 3 pontos (graus) na escala Richter.

Eventualmente, temos tremores moderados, como ocorreu em 2008 na margem continental do País e foi percebido em São Paulo, no Paraná, em Santa Catarina, em Mato Grosso do Sul e outros Estados. Mas, geralmente, esses tremores mais fortes demoram muito para acontecer.

Na história do Brasil, só tiveram dois tremores de magnitude maiores - um em 1955 em Porto dos Gaúchos, na Serra do Tombador, em Mato Grosso, de 6 graus, e outro no mesmo ano, de 61,1 graus, na margem continental em frente a Vitória, no Espírito Santo. O nosso solo é bastante antigo e fica no interior da placa sul-americana, por isso não há grandes tremores.

Como explicar o tremor registrado no começo dessa semana no Rio Grande do Norte?
Foi um tremor de causas naturais ocorrido por movimentações de falhas geológicas. A região Nordeste é uma das quais mais acontece tremores. No Ceará, já foram registrados muitos pequenos tremores, porque a região sofreu mudança geológica mais recente.

Em João Câmara, no interior do Rio Grande do NOrte, foram registrados mais de 60 mil tremores - o mais forte foi de magnitude 5,1 graus no dia 30 de novembro de 1986. De lá para cá, muitos tremores aconteceram até 5 anos atrás. E agora, talvez estejam se reativando.

O que significa basicamente a escala Richter, utilizada para especificar a magnitude do tremor?
É uma escala logarítmica e não tem limite, ao contrário do que muitos dizem. Ouvimos muitas vezes que ela vai de 0 a 9, mas é que os maiores terremotos que ocorreram no mundo ficaram nessa faixa, como no Chile, em 1960, de 9,6 graus, e em Sumatra (2004) - de 9,3 graus. (O técnico disse que o termo correto seria pontos ao invés de graus, como é usado normalmente).

Tremores são registros na faixa de 3 a 4 graus; de 4 a 5 graus são considerados sismos, e terremotos são sismos catastróficos.

O Brasil tem instrumentos de prevenção e medição confiáveis nesse departamento de sismologia, ou estamos muito defasados?
Prevenção não existe, nem aqui e nem em outra parte do mundo. Em todo o País, temos sismógrafos e eles estão detectando essas ocorrências que ocorrem pelo mundo.

Há países bem preparados para enfrentar terremotos? Em alguns países existem preparação. O Haiti tem pequenos tremores, mas não tem preparação. Os países mais ricos tem preparação para suportar, mas não resolve. No Japão, em 1995, o terremoto em Kobe (6,3 graus), com epicentro no oceano, a 16 km do centro da cidade, destruiu-a. Apesar de todo o aparato, os japoneses continuam sem ter como se defender de terremotos.

Os haitianos foram pegos de surpresa? Tinha como prever esse terremoto e evitá-lo?
Previsão não existe. É uma região que é suscetível à ocorrência de tremores. Há 200 anos não havia um tão intenso, e o povo haitiano foi pego de surpresa por esse terremoto que acabou destruindo quase tudo.

Fonte: Terra

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